IX

Às vezes algo estranho acontece comigo, sinto como se não conseguisse controlar meus pensamentos. Tento evitar, procuro fazer outras coisas mas acabo sempre voltando ao mesmo assunto: desde que fui abandonado sinto um desejo enorme de ... não sei bem se essa é a palavra certa, parece mais um vazio dentro de mim, um vazio inexplicável, insaciavél. Sinto ele em toda a parte ainda, por mais estranho que possa parecer, sinto ele nas pequenas coisas, apenas por alguns minutos me vejo aliviado disso tudo. Apenas quando...quando... confesso que matar me da realmente prazer, sentir um macho cair perto de mim é muito bom. Ver sua respiração ir acabando aos poucos, seu corpo ainda nu e quente sem movimento algum, seu pau ainda ereto. Aquilo realmente me da um alivio,um prazer sem igual; mas depois vem novamente a realidade e você novamente na minha cabeça. Bebo ,fumo. Passo levemente a borda do copo pelos meus lábios e penso na sua boca de ressaca pela manhã. Acho engraçado. Realmente eu gostava do cheiro da sua boca pela manhã, daquele cheiro de macho ao amanhacer. Gostava ou gosto ¿ Isso não importa mais agora pois não tenho mais como escapar, você corre dentro de mim, seu sangue sujo, contaminado por esses putos que...
Dou vários socos na parede para ver se passa minha raiva. Mas não adianta. Sinto raiva dele mas ao mesmo tempo uma certa compaixão, pena, sei lá. Será que ele achou que eu não o fosse perdoar e por isso me abandonou daquela maneira¿ Sem motivos, sem explicação. Mas eu o perdoo. Eu sei que ele não teve culpa, que foi um momento de fraqueza. Volta pra mim. Eu te perdoo. Volta .
Acordei no meio da noite, as luzes todas acessas. Acendi um cigarro e fiquei ouvindo nossa música preferida.
Decidi que não queria mais viver daquele jeito, me sentia muito só, sentia muito a sua falta. Nenhuma noticia, nada. Revirei todas as gavetas do apartamento, armários, despensa e  peguei todas as velas que achei, começei a acender uma a uma...  Fiquei ali no meio da sala,nu, de joelhos, no meio do círculo de fogo, o vento que entrava pela janela fazia as sombras dançarem pelas paredes. Com o rosário nas mãos fui passando conta por conta e decidi que cada uma delas seria mais um... até chegar o momento da cruz onde tudo acabaria...
Acendi  um cigarro e fiquei dançando em volta daquela fogueira de chamas bruxuleantes pela madrugada adentro.

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