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SEGUNDA PARTE



Após pegar uma xícara de café sem açúcar, Fabrício se dirige para sua sala. Sentado no parapeito da janela seu subordinado Peixoto, sujeito sem charme, baixinho, barba por fazer, desses que sempre tem uma piada pronta pra ser contada. Na sua mesa fotos, várias fotos. Vários homens. Nenhuma ligação aparente. Quem quer que tivesse feito aquilo não seguia uma sequência lógica: jornalista asfixiado na cama de um hotel, possível latrocício. Universitário, praça pública, espancado na cabeça. Bancário asfixiado em sauna. O café ajudava a pensar mas alguma coisa ali não fazia sentido.


-Gays. Temos um assassino de gays! Disse Peixoto olhando a paisagem de prédios pela janela.–Nosso assassino deve ser homofóbico.
- Impossível. O assassino, ou assassinos pois ainda não sabemos se as mortes tem alguma ligação, possivelmente  teve relação sexual com as vítimas. Essa possibilidade está descartada.
- Drogas ?
- Também acho pouco provavél.
A conversa foi interrompida por um telefonema.
- Pegue suas coisas Peixoto, vamos dar uma volta.
A rua transversal de casas parecia tranquila, exceto pelo amontoado de curiosos em frente a casa azul, uma viatura da polícia e um rabecão do IML compunham o restante do cenário. Sentado na sala em um sofá de qualidade duvidosa estava um rapaz moreno, magrinho, chorava copiosamente. Um sujeito gordo com uma toalha no ombro tentava lhe acalmar oferecendo um copo d’água. Guiados pelos policiais presentes fomos até o andar superior; no final do corredor, dentro de uma cabine apertada, um corpo já em estado de decomposição, deitado de barriga pra baixo como se estivesse dormindo. O local estava fechado no dia  anterior e pelo que deu para constatar o corpo da vítima estava ali por pelo menos uns dois dias, sendo descoberto pelo rapaz da limpeza, o tal que chorava na sala do andar de baixo. Seria aquilo uma coincidência ou teríamos um assassino em série a solta ?
Aquele ambiente começou a me incomodar, tudo ali cheirava a sexo, até mesmo o cadavér todo perfurado ali na minha frente. Acendi um cigarro e fiquei vendo se achava alguma pista que pudesse nos ajudar de alguma forma a descobrir quem estava por trás disso. O local não era o que se podia chamar de ‘higiênico’ , preservativos usados por todos os cantos, papeis de balas,pontas de cigarros, restos de papelotes de cocaína e  um cheiro forte de esperma no ar. Sexo e morte. De alguma forma aquele ambiente decadente de sexo me excitava.  
- Isso não é bom .
Então  algo me chamou a atenção num canto do corredor.

§ § §

No canto inferior da página ‘8’ do caderno policial estava estampada a foto de um rapaz, dos seus vinte  e poucos anos morto a facadas em uma sauna na periferia da cidade. A polícia ainda não tinha suspeitos. As investigações estavam correndo em sigilo.
Sentado numa cadeira e olhando a parede da sala, ainda suja,  na minha frente refletia sobre os últimos acontecimentos. O que estava feito , estava feito . Não tinha mais volta.  Fui até o quarto e peguei a minha mochila, tirei tudo que havia dentro, de todos os bolsos, mas não encontrei meu canivete.

Um comentário:

Anônimo disse...

Misteriosas são as armadilhas que o destino nos reserva.