Não sou um anjo. Apesar de ter o nome de um estou longe de ser um deles. Tampouco sou um demônio. Essas “coisas”, demônios e anjos, para mim não existem, são como fadas e duendes. Poderia contar aqui páginas e páginas da minha triste história para vocês, mas prefiro relatar algo mais, digamos, excitante. Tentarei ser breve então: um dia meu mundo caiu. Após cinco anos de um relacionamento, do qual eu era completamente fiel e apaixonado me descobri soropositivo. Até aí nenhuma novidade. Mas eu não sei se o que doeu mais foi essa descoberta ou saber que era descaradamente traído. Creio que foi a segunda hipótese. A primeira pouco me importava. De um dia pro outro minha vida virou de cabeça pra baixo, o homem que eu amava , amo, me deixou covardemente sem qualquer explicação. Simplesmente pegou suas coisas, jogou a chave na mesa de jantar e saiu. Me vi completamente perdido, olhava para as paredes do meu apartamento e aquilo para mim era completamente estranho,minha própria casa não fazia mais sentido para mim, minha cama ficava a cada noite maior e mais vazia, nada mais tinha o mesmo valor. Um enorme vazio começou a brotar no meu peito e isso doía muito. Muito mesmo. Me afastei das pessoas. Me afastei de tudo, só queria ficar sozinho, na verdade eu nem sabia direito o que eu queria. Eu queria ele de volta pra mim. Mas ele se foi. Passava noites e noites olhando para a porta na esperança dele entrar. Um dia adormeci olhando para ela e dormi por horas, dias...nem sei.
Acordei de sobressalto com vozes ao meu redor, várias vozes estranhas sussurrando na minha cabeça. Fui até o banheiro e quase não me reconheci no espelho. Minha ficha começou a cair e entrei em desespero. Não estava acreditando que aquilo tudo era verdade, que ele realmente tinha ido embora e me deixado sozinho. Uma raiva enorme começou a brotar dentro de mim e comecei a dar socos no espelho, nas paredes, no box e só parei quando estava completamente exausto e sem forças então comecei a chorar.
Precisava de uma bebida. Minhas mãos estavam trêmulas e cheias de sangue, mal conseguia segurar a garrafa, derrubei alguns copos e uma fruteira que havia em cima da mesa, dentro dela alguns papéis e um terço de prata: era dele. A partir daquele momento decidi que iria procurá-lo onde quer que ele estivesse e cobrar dele uma explicação por ter me abandonado daquela maneira. Foi então que comecei minha procura. Parques, saunas, becos, boates; locais que ele provavelmente freqüentava enquanto eu ficava em casa à sua espera cego de amor. Amor... prometi a mim mesmo que nunca mais sentiria isso por pessoa nenhuma, nem por mim mesmo.
Não peço que tenham pena de mim, pois eu não teria de vocês.
Não peço que tenham pena de mim, pois eu não teria de vocês.
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